Tendo um grande peso na constituição de nossa cultura e história, os Caminhos das Tropas (ou Estradas das Tropas) foram seformando em meados de 1500 a poucas décadas após odescobrimento do Brasil, quando o administrador português e militar Martim Afonso de Souza, após assumir o comando outorgado pelo rei em 1530, com poderes e direito de governar os territórios que viesse a descobrir, reconheceu e explorou as costas das regiões que hoje são o Uruguai e o Rio Grande do Sul, após ter naufragado em sua expedição ao navegar pelo Rio da Prata, mas tendo conseguido sobreviver ao referido incidente.

Tropeiros
Enquanto Martim Afonso de Souza explorava essas regiões costeiras, e esperava por Pero Lopes a retornar com sua expedição para que então seguissem rumo ao litoral brasileiro. O mesmo Pero Lopes com seushomens, subiam o Rio da Prata chegando a alcançar até as nascentes do Rio Paraná, sendo guiados por Henrique Montes, onde demarcaram o último local citado fixando com os Brasões de Portugal dois padrões de pedra.
Em 1680, os colonizadores portugueses decidiram incumbir o capitão-mor Manoel Lobo, a fundar a Colônia do Sacramento(atualmente cidade uruguaia) tendo chegado à região pelo litoral.
Algumas décadas mais tarde, por força da necessidade dos portugueses e paulistas abrirem um caminho que ligasse a mencionada Colônia, à cidade de Sorocaba no interior paulista, fez com que a Coroa Portuguesa percebesse que a demanda por transporte tracionado por animais era grande. Sua necessidade instigava principalmente, dentre outros, os setores alimentício e de mineração. Este último com destaque às Minas Gerais, onde a produção garimpeira de ouro crescia juntamente com o comércio de mulas de carga.
Após a descida dos paulistas para o sul, em busca de animais para o transporte, chegando primeiramente a Curitiba em 1654, em 1658 a São Francisco, a Desterro em 1673 e por fim em 1684 a Laguna já na região da Vacaria do Mar. A Coroa Portuguesa, visando evitar iniciativas particulares, apossou-se da empreitada de abrir um caminho para as tropas. Foi então que em 1.727 já no transcorrer do século XVIII, para a designação de tal tarefa, foi nomeado o sargento mor Francisco de Souza e Faria. Esta obra teve suas dificuldades por afetar interesses de grupos importantes de Santos, Curitiba, Laguna e Paranaguá. Muitos incidentes propositais quase impossibilitaram o projeto de ser executado, sofrendo até mesmo resistências por parte dos “Brito Peixoto” contra o intento da Coroa portuguesa. Fato este que abriu portas para a importante integração dos homens de Colônia do Sacramento e principalmente de Cristóvão Pereira de Abreu muito conhecido na referida Colônia, tendo sido dentre outros tenente, capitão, condutor de tropas e coronel de Ordenanças, havendo lutado bastante contra os ataques espanhóis, o que acabou favorecendo em grande maneira este negócio. Sua participação foi importante dentre outras formas, no seu empenho em solucionar os impedimentos relacionados ao recrutamento de homens, e na confirmação e estabelecimento dos caminhos que iam sendo abertos por Francisco de Souza e Faria, o qual tinha as ordens para abrir um caminho rumo a São Paulo, vindo após o mesmo a uma distância de tempo de mais ou menos um ano. E conquistando o êxito de já em sua primeira viajem, conseguir realizar e estabelecer a ligação do sul do Brasil, alcançando até às Minas Gerais. Onde o mercado de mineração sofrera um “boom” de aquecimento comercial, e necessitando de tais aberturas de acesso para o transporte.
Deu-se então desta forma, início à “Estrada das Tropas” como também era chamada. Consistia-se em uma trilha ou via de acesso territorial, que foi se formando pelos rastros deixados pelos gados, que eram transportados pelos tropeiros, os quais por sua vez eram homens viajantes transportadores de animais de carga, cujos tais, dizendo-se dos referidos animais, eram denominados de “tropas”.
Mais tarde, a linha de itinerário do comércio de mulas de carga, cavalos, bois, etc, se dava entre o Rio Grande do Sul e São Paulo, onde especialmente em Sorocaba (cidade paulista) encontrava-se um grande centro de comércio destes animais, com feiras sendo praticadas por todo o ano. E esse sistema de deslocamento tropeiro, era constituído por três principais trilhas, sendo, “o Caminho do Viamão”, “o Caminho das Missões” e “o Caminho da Vacaria”.
O Caminho do Viamão iniciava-se em Viamão, passava por diversas localidades (hoje cidades constituídas), dentre elas Ponta Grossa e chegando até Sorocaba, e era também chamada de “Estrada Real”.
O Caminho das Missões, com destino à bifurcação entre União da Vitória e Ponta Grossa dentre outras, partindo de São Borja.
E o Caminho da Vacaria fazia a conexão, entre o Caminho do Viamão na Vacaria e a Cruz Alta.
Com o passar dos anos o tráfego nas trilhas foi-se aumentando, e com a necessidade de paradas para alimentação, pouso dos tropeiros e pasto para as tropas de animais, gerou-se assim oportunidades de negócios para muitas famílias, as quais foram se estabelecendo e provocando um desenvolvimento populacional ao longo destes caminhos. Dando origens a diversos povoados, que expandiram-se até aos dias de hoje, formando muitas das grandes cidades atuais.
HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
No tempo do batuque dos tropeiros

O livro Antologia do Folclore Cubatense, de Luzia Maltez da Guarda (edição da autora, 8/1985, Cubatão/SP), relembra os tempos em que Cubatão era apenas um pouso de tropeiros:

Imagem de Maria Rosa Rodrigues, publicada no livro
As tropas, os tropeiros e os ranchos de pouso no folclore cubatense
Com o desenvolvimento da agricultura em meados do século XVIII, foram registrados aspectos folclóricos dos tropeiros que transportavam açúcar do Planalto para o Litoral e vice-versa, das tropas, e dos ranchos que serviam aos tropeiros.
Historiadores que na época estiveram por aqui descreveram como eram as tropas, os tropeiros e os ranchos de pouso.
A figura do tropeiro: o aspecto rústico, a inteligência e a bonomia davam à fisionomia do tropeiro uma expressão peculiar, diferente da dos homens que normalmente habitavam por aqui. Atrás da cinta, usavam uma faca bastante pontuda, que era utilizada para cortar mato, consertar arreios, matar e preparar animais. Cortava alimentos e não raro servia como instrumento de defesa contra assaltantes, ou mesmo para praticar assaltos.
Os tropeiros ainda se caracterizavam pela fisionomia, sua cor (negro), por suas vestimentas, pela maneira de falar, pelos costumes. Por tudo isso, tornaram-se alvo de historiadores que os diferiam dos tropeiros mineiros, tornando-os figuras populares na região. Divertiam-se muito, eram extremamente alegres.
"Quando muitos deles se reúnem nos ranchos, os camaradas se congregam todos para dançar e cantar a noite inteira o batuque. Gritam a valer e com as mãos batem cadencialmente nos bancos em que estão sentados. Assim se divertiam(N.A.: citado Hércules Florence).
Toda essa alegria fez com que os tropeiros cativassem o povo da região, e eles passam a figurar no folclore de Cubatão como marco de sua etnia. Simplicidade e pureza retratavam esse grupo, que fora denominado Tropeiros.
As tropas: as mulas serviam ao transporte de mercadorias, especialmente para o transporte de açúcar entre o Planalto e o Litoral.
"Um dos animais é amestrado para conduzir os demais. Esse - que é geralmente escolhido pela sua prática e conhecimento dos caminhos, além de outras qualidades - leva em geral um penacho na cabeça. Fantasiosamente ornamentado de conchas marinhas, fitas e penas de pavão. Leva ainda um cincerro pendurado ao pescoço, e caminha sempre frente aos outros. O tropeiro chefe vai sempre muito bem montado e leva um laço preso à cinta, pronto para ser arremessado sobre qualquer animal que desgarre" (N.A.: citado Kidder).
"O sossego e a compreensão destes animais durante o arreamento são comparáveis unicamente à perícia dos negros carregadores: repartiam a carga igualmente nos dois lados da mula. A carga era fixada sobre uma cangalha de palha e coberta de couro cru com dois cabeços para cima e nos quais se fixava as cargas, sendo mais difícil evitar que a cangalha pise o animal pelo atrito. As mulas são amarradas umas às outras pela cauda e, como elas assim caminham em linha, são necessários apenas poucos tropeiros, a cuja voz elas seguem e obedecem"(N.A.: citado Bayer).
Esse era um transporte eficiente...
"Um candeiro (tropeiro chefe), que por muitos anos se tinha servido exclusivamente de serviço dos tropeiros, declarou que raramente, ou talvez nunca, alguma mercadoria não tenha chegado ao seu destino". (N.A.: citado Kidder).
Os Ranchos de Pouso: em suas idas e vindas, os tropeiros paravam para descansar e de novo prosseguir viagem. Paravam nos ranchos de pouso, se reuniam, dançavam, cantando e dançando o batuque, comiam peixes secos (tainhas secas ou curtidas ao sol, um costume herdado dos íncolas) e caranguejada (prato feito de caranguejo ferventado em água e sal). Com a água da caranguejada, faziam pirão adicionando farinha de mandioca para engrossar como um mingau e levavam em potes para comerem durante suas viagens.
Esses ranchos de pouso eram pequenas construções muito simples e de material não muito durável. De acordo com o gosto dos tropeiros, os ranchos deveriam ser assim construídos:
"Cada rancho deve ter 60 (sessenta) palmos de comprido e 30 (trinta) de largo, dividindo em duas metades, uma fechada até acima, com estibas na guarda interior das paredes, para nelas guardarem as cargas, e outra com a parede do ou tão até acima, e nas frentes meia parede com duas porteiras seguidas no meio para nesse lanço descarregarem as tropas, e fazerem as suas cozinhas; e que para total duração dos ranchos devem ser feitas de taipa de pilão e cobertas de telhas, conforme a planta". (N.A.: citada Maria Tereza Petroni).
Os ranchos foram muito importantes para os tropeiros e para as tropas que abriam caminhos na Serra do Paranapiacaba (hoje Serra do Mar), como também na fixação de costumes e comportamentos afros a nosso espaço geográfico.
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